tag:blogger.com,1999:blog-27976579082690447262024-03-14T11:47:48.488-03:00Trem de Madalena"...
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."
Com licença poética, Adélia PradoMadalenashttp://www.blogger.com/profile/05732371911668913527noreply@blogger.comBlogger98125tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-17342651885281161022010-06-04T01:28:00.000-03:002010-06-04T01:30:02.153-03:00Volver?Por que isto de que me dá vergonha<br />escrever poesia<br />ser poeta<br />Não é concreto, nem bonito, é raro.<br />É sem sentido e sentimental<br />Bárbaro<br />destino de negar isto que sou<br />para ser concreta, feliz, prática e tua.<br />Para deixar de tentar ser perfeita<br />para expressar teu corpo nestas letras.<br />Para empreender-te vivo entre mis piernas<br />Amar-te de verdade e não senti-lo<br />Distante entre meus versos<br />Etéreo e frio.<br /><br />Laís de OliveiraMaria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-60821258440924910832009-09-24T15:57:00.007-03:002009-09-24T17:06:28.075-03:00EquinócioEm ti<br />eu quis ver as tardes de maio<br />Em seu azul intenso e pleno, pálido<br />Teus olhos.<br />Nos meus, insistência, o ensaio<br />de amar simples<br />num beijo, imenso e cálido.<br /><br />Em ti<br />eu fiz meus passos, um cenário<br />para segui-lo e meu cotidiano<br />Fi-lo meu guia e consultor,<br />meus planos<br />Fiz seu café<br />Meus dias, seus horários.<br /><br />Em ti<br />eu vi contrastes, do mais sábio<br />ao leviano. Violento e doce.<br />Cores de tons pastéis <br />ao vinho, lábios<br />gentis, irônicos.<br />És qual não fosse.<br /><br />Em ti<br />a tarde encheu-se de um vazio<br />chuvoso. Era setembro e eu, sozinha.<br />Tuas mãos se esfriaram<br />Antes que as minhas<br />queimassem. E eu me esqueci do estio.<br /><br /><br />Laís de Oliveira<br />Belo HorizonteMaria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-4292890924294268962009-06-11T15:22:00.003-03:002009-06-12T19:57:22.136-03:00Passeio<p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"></span></p><blockquote><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">"Sometimes I feel so happy</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">Sometimes I feel so sad</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">Sometimes I feel so happy</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">But mostly you just make me mad</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">Baby you just make me mad"</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">Pale Blue Eyes, The Velvet Underground</span></p></blockquote><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"></span></p><p class="MsoNormal"><i><br /></i></p><p class="MsoNormal"><i>Distanciou-se uns poucos passos à minha frente e eu pude vê-lo caminhar. Se eu não estivesse ali alguns segundos antes poderia facilmente se passar por um desconhecido que eu ultrapassaria, indiferente, sem notá-lo ou, no máximo, notando a combinação rara das calças cáqui e o tênis, o que eu esqueceria em seguida, ao que visse outra coisa qualquer – um carro que riscasse a cena, um papel no chão ou o número das casas.</i></p><p class="MsoNormal"><i><br /></i></p> <p class="MsoNormal">Que diferença fazia, então, que fosse ele e que ele fosse tão diferente dos outros? O que a fazia prestar atenção nos seus passos e analisar o seu todo, do desenho de nuca aos braços acompanhando sem muita harmonia o ritmo das pernas? Sua caminhada era como algo que ela devesse seguir e o sentimento por pouco não se arrebatava no impulso de correr e apertar-lhe os braços: <i style="mso-bidi-font-style:normal">leve-me</i>. Se olhando-o de longe era tão ordinário vê-lo, que diferença ela via entre a cadência dos seus passos e a de qualquer outro? Qual era o sentido de sentir no rosto assomar-se um sorriso que era sincero e sem pensar ao vê-lo caminhar de longe, quando os olhos não puderam reconhecer ainda o rosto ou a cor dos olhos, mas tão só a silhueta e a sombra dos gestos? </p> <p class="MsoNormal">Ela sabia que olhar nos seus olhos era despensar de tudo isso e dela mesma, como se o pensamento fosse tão somente o necessário para nos lembrarmos de algo que ainda não é, a representação do que deve ser, que devemos buscar, aquilo que está por fazer e não pode ser visto. Como se pensar fosse a antecipação do ser, a distração e o trabalho da alma. Mas ele tão somente era, que era desnecessário pensar. Era tão natural que à sua frente ela encontrasse o ideal e sua cabeça se inibisse de todos os pensamentos, que ela se sentia bocó, sem sentido, preguiçosa. Ele se fazia na frente dela e a desobrigava de criar. Tudo era somente leve, sem raciocínio, o que os filósofos talvez elogiassem ou tratassem com repúdio. Ela era simplesmente o que devem ser as crianças no estado em que o mundo é dado e não há nada no mundo que se desconheça, exceto os nomes que se dão as coisas. De olhar para ele, nela restavam poucos resquícios do vocabulário, só as qualidades essenciais: azul, belo... Era, no mais, a idéia do que as coisas são antes que a elas seja dado um nome. Ela sentia como se ele a falasse por telepatia.</p> <p class="MsoNormal">No entanto, tão somente vê-lo andar, pelas costas, já a fazia senti-lo além da rua, do barulho dos carros ou do frescor do vento. Não lhe daria maior importância se não o tivesse olhado, antes, por mais de um minuto. Talvez se nunca tivesse visto seus olhos...</p> <p class="MsoNormal">Agora os passos rápidos que se distanciavam à sua frente a incomodaram como um despertar barulhento e repentino, dos que misturam a raiva do susto à nostalgia do sonho, mas com o que ela sonhava? Apressou-se a encontrar seus passos e, quase de encontro destes, aquelas mãos que os acompanhavam numa arritmia única a buscaram, antes... <i style="mso-bidi-font-style: normal">Vamos</i>! </p><p class="MsoNormal"><br /></p><p class="MsoNormal">Laís de Oliveira</p><p class="MsoNormal">Quinta-Feira, 11 de Junho de 2009</p>Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-27371943660353362192009-06-04T14:16:00.004-03:002009-06-04T14:35:55.084-03:00Subliminar<span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;"></span><br /><span style="font-family:georgia;">Inquietante</span><br />Impulso<br />Os dedos querem<br />Escreva! - pedem -<br />Eu censuro, tensa<br />Na rigidez contrária ao que se pensa<br />Recuso as letras de um rabisco vago<br /><br />Rabisco teu<br />Sem previsão, sem crença<br />Nem contas, nem raciocínio<br />Sem lógica<br />Leve como um já saber repentino<br />Tal qual o fosse sempre<br />Como o trago<br /><br />Natural<br />Claro que seja escrito<br />- se o censuro - incessante<br />Disfarça<br />Rima-se como o penso<br />- endosso a farsa - Eu<br />Te escrevo sem notar<br />E não apago.<br /><br /><br />Laís de Oliveira<br />3 de Junho de 2009Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-3425409125810843092009-05-21T21:11:00.001-03:002009-05-21T21:14:47.115-03:00Texto<div align="left"> </div><div align="left">Vinho para escrever, queijo para engordar... A noite se parece com alguma em que eu acabava de chegar aqui. As luzes me parecem novas, o cenário é quase inédito. Escrevendo, eu me lembro dos textos que perdi, do que ficou por ser dito. Eu deveria sair, esta noite, recuperar nas ruas a escrita que um dia o asfalto me inspirou e as luzes amareladas ditaram, para que eu recuperasse também o amor passado e a nostalgia de outros tempos. Mas estes já se foram, e, mais do que meu hard disk, estas memórias são irrecuperáveis.<br />No entanto, a sensação de tudo novo em dá uma impressão de nova chance, como se agora me fosse dado voltar e recuperar antigos feitos, e refazê-los, aprimorá-los, olhar mais vezes. Da janela, talvez as lâmpadas de rua são as mesmas. Talvez à distância elas parecessem trocar de lugar. As luzes acesas, enquadradas nas janelas dos prédios, de repente me lembraram de você, que eu sei que é amarelo, relembro segurando o riso, por saudade, ou zombaria por mim mesma. Eu sei que quis te escrever antes que o conhecesse, e agora seu texto perdido e esta noite nova me confundem... Já o conheci?<br />O efeito do vinho passa, eu devo sair.<br />Eu deveria te encontrar sobre a cidade, sem que o esperasse. Você não me veria e, futuramente, nenhum de nós ia lembrar como nós nos conhecemos, como se nós de muito já nos conhecêssemos... Talvez houvesse álcool e um amigo em comum, ou ninguém em comum, ou ninguém. Deveriam só haver as luzes amarelas e nós... O sabor rescendente do vinho e a saliva pesada de queijo, para que o fermentado da cerveja acentuasse a sensação de preenchimento. Mas agora me lembro, quase sóbria, que quase já não acredito em você.<br />Você é um texto a ser escrito, aquele que vai me acompanhar por estas noites para que eu não tenha outra ocupação, senão dizê-lo. Senão fazê-lo rima. Poesia, texto: registros do que nunca foi, o fundamento da escrita de um poeta, a musa inacabada. Vinho para escrever. Queijo para engordar. Eu sei que você não existe? Eu acredito? Eu somente te escrevo como um agrado para os meus dedos? Você é rima e não poderia ser mais que isso, outra coisa.<br />No fundo espero, ou eu sei que hei de encontrar-te nos teclados, nestas noites, até que as teclas se desgastem e eu as adivinhe para contá-lo. Até que eu me desgaste e seja sua, até a 38º edição, ou até a publicação na banca mais próxima.<br />Até que eu finalize um livro num final amargo e inacabado, daquele que só eu conheça, para satisfazer-me de manter algo seu em mim. Para que eu te leve comigo.<br /><br />Laís de Oliveira<br /></div><div align="left"> </div><div align="left"> </div><div align="left"> </div><div align="left"> </div><div align="right"><br />"Era hora de acordar<br />Tinha um mundo pra aprender<br />Tem às vezes que brigar<br />Pra tristeza não vencer<br />A vontade de dançar<br />E a criança pra nascer<br />Mala grande pra arrumar<br />Vinho branco pra esquecer"<br />Sinhazinha (Despedida), Chico Buarque</div>Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-15524206423960353052009-03-19T11:12:00.000-03:002009-03-19T11:32:15.000-03:00CoisasAs minhas coisas começam a se parecer com como elas serão, como as coisas da minha mãe eram pra mim quando eu era pequena.<br />Como se meus livros, ou o colar de cerâmica que acabei de comprar, me lembrassem de que o tempo passa, de que a vida é uma só. A mesma vida em que se adquire a edição comemorativa de “Cien Años de Soledad” é aquela em que meu filho vai ter um livro grosso, verde e de capa dura nas memórias da estante de sua mãe, na infância, e ainda a mesma em que ele irá, provavelmente, se aventurar a lê-lo e sentir a passagem nostálgica do tempo dos Buendía, percebendo, ou não, a nostalgia da passagem do seu próprio tempo. Talvez o ajudem a perceber, as páginas amareladas.<br />Talvez minha filha experimente meu colar de cerâmica, os pés descalços sobre o assoalho da nossa casa, admirando-se no espelho na fantasia de ser gente grande, como a mãe. Talvez, então, eu já tenha me cansado do colar e ele vá pertencer à caixa de brinquedos dela, até que ela também se canse, esqueça. Talvez ela não note o quanto já se passou em mim, de quanto já me esqueci – embora tanto tivesse amado, quando era tempo. Espero que ela não tenha o mesmo medo do futuro que eu tinha, resumido no medo de crescer. Que, no entanto, ela ame o presente com a mesma intensidade, mas que não tenha a nostalgia de deixá-lo, que viva com leveza as fases, deixando ser o que ela será e amando tudo o que ela foi, mas livre.<br />Assim, as minhas coisas parecem o que serão, mas logo voltam ao normal. A nostalgia de hoje, na perspectiva do futuro sentido, se mistura na nostalgia do sentimento de futuro passado. E eu não tenho mais o que fazer do que comprar novos livros e lê-los, assim com os colares, usá-los, como o tempo.<br />No entanto a nostalgia pese, eu sinto amor pelo que as coisas são agora, em sua juventude, inocentes pelo que deverão ser. Eu sinto amor pelo que sou, enquanto ainda posso inventar meu futuro – e sentir saudades do presente.<br /><br /><br />Laís de OliveiraMaria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-54842689276597141522009-03-13T02:45:00.001-03:002009-03-13T02:48:17.872-03:00Descora com o sol<span style="font-family:courier new;"></span><br /><span style="font-family:courier new;"></span><br /><span style="font-family:courier new;">Nota-se que uma cidade já se tornou antiga quando há alguma memória distante o suficiente para ser nostálgica. Da primeira vez que se olha para uma esquina qualquer e se lembra dela vista em outras cores, com olhos antigos.<br />Belo Horizonte começa a me parecer o que deveria, quando me mudei, e eu já começo a rever paisagens não com o orgulho embriagado da mudança e da vivacidade de uma nova fase, mas com a nostalgia e a saudade de quem reconhece, naquela paisagem, um tempo que não volta. Outubro pode voltar, mas aquelas cores de outubro não voltam.<br />Eu me arrependo por não ter escrito mais e guardado todas as imagens como elas eram, mas sei que a euforia por guardar todo o momento com os olhos e na pele me fez sentir-me avessa ao isolamento triste da escrita. Sinto que Belo Horizonte é minha casa quando eu consigo ter memórias nos seus quarteirões e quando sinto, desde já, a nostalgia de ter de deixá-la – manifesta no desespero por aproveitar cada espaço.<br />Posso reler meus versos, mas eles nunca terão a força dos que não foram escritos.<br />No fim, o melhor que faço é acreditar nas palavras que guardam algo do que era e na saudade das esquinas nas suas cores e segredos, quando eu as desconhecia.<br />Hoje o meu dia as torna corriqueiras e eu as sinto como se fosse ontem.<br /><br />Laís de Oliveira, 12 de março de 2009 (madrugada)</span>Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-3196022534370808402009-01-25T00:33:00.004-02:002009-01-25T00:53:44.970-02:00Faz tempoQue eu não posto aqui.<br />Que eu não me sinto tão fraca, tão vulnerável.<br />Talvez tudo seja fruto apenas das noites mal dormidas. Lugar infernal esse onde moro. Queria sair daqui, ir pra outro lugar.. Qualquer lugar em que eu não precisasse discar 190 de dois em dois dias, acordar ao som de sirenes ou filhos da puta berrando e tocando vioção no meio da madrugada. Preciso sair daqui, e vou, mas toda vez que eu realmente me decido aparece um porém; "a big and fat" porém.<br />Há tempos não me sentia tão sensível, tão... sozinha. É o costume errôneo de ter alguém sempre ao lado, de ter sempre algo pra fazer. Começar a trabalhar me fez um bem que eu nem podia imaginar, mas não preenche todo o tempo, e, principalmente, não preenche o vazio. Esse ano começou novamente sem grandes planos, entretanto, é bom não ser a mesma pessoa acomodada e átoa que eu sempre fui.<br />Hoje não vou olhar a ortografia, não vou me preocupar em escrever algo coerente, bonito. Hoje eu só quero voltar.<br />Porque há pouco tempo eu descobri que anos podem não significar nada, não se as atitudes não mudam, não se o sentimento permace o mesmo. Assim como existem e sempre existirão aqueles momentos em que você sente que a partir dali nada mais será igual. E só não quero e não posso perder a esperança, afinal, cedo ou tarde algo há de mudar.<br />Só espero que seja para melhor.B.G.http://www.blogger.com/profile/02209620834424223363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-87771120533633156902009-01-07T00:13:00.006-02:002009-01-07T00:53:06.155-02:00Bom dia<span style="font-family:georgia;"><em></em></span><em></em><br /><span style="font-family:georgia;"><em><br />"Vio una mujer vestida de oro en el cogote de un elefante. Vio un dromedario triste. Vio un oso vestido de holandesa que marcaba el compás de la música con un cucharón y una cacerola. Vio los payasos haciendo maromas en la cola del desfile y le vio otra vez la cara a su soledad miserable cuando todo acabó de pasar, y no quedó sino el luminoso espacio en la calle, y el aire lleno de hormigas voladoras, y unos cuantos curiosos asomados al precipicio de la incertidumbre. Entonces fue al castaño, pensando en el circo, y mientras orinaba trató de seguir pensando en el circo, pero ya no encontró el recuerdo."<br />Cien Años de Soledad (fragmento), Gabriel García Márquez</em></span><br /><span style="font-family:georgia;"><br /><br />Esta noite uma ansiedade arrepia todo meu corpo e eu mergulho numa insônia inquietante e desesperadora, como a da noite em que nos despedimos para o que seria o porvir de uma nostalgia sem fim. Uma solidão sem tamanho.<br />Por este desespero ou por ocasião da noite, minhas letras parecem escrever com mais facilidade do que antes, ao menos as palavras me ocorrem com mais clareza. No entanto, o medo de que o sentimento fuja antes que eu possa registrá-lo, imunizando-o contra o esquecimento, faz com que os dedos tenham pressa e somam, à cabeça, mais ansiedade, subtraindo qualquer aproximação do sono.<br />A inquietude da sensação indescritível, aquela concomitância de sentimentos, o desespero da impotência, da necessidade, da indiferença do tempo e das luzes da cidade, do carro que já se tinha ido quando implorado pelos olhos na janela, do desespero, daquela solidão intensa, da vontade, da imutabilidade, do meu desejo, deste destino, esse desespero na calma tensa da cidade, do meu desatino, da saudade, dessa necessidade, de estar sozinha, de estar aqui, de estar na vida, de ter que fazer algo: a insônia, minha inquietude, a realidade. Quando, num paliativo, por uma última memória, por um registro e para não morrer (de esquecimento ou num vôo pela janela) meu celular chamou seu número, para nunca se esquecer.<br />E, no entanto eu temo, agora, um dia não me lembrar da cor de seus olhos, como Anna de Amsterdã o fizera, como eu já o havia previsto em seu único poema feito por mim, por consciência do nosso destino, ou porque a fala de “Calabar” tivesse ficado guardada em algum trecho de minha cabeça e eu a relembrasse na ocasião de escrevê-lo (seu poema, ou ele). Leiam-se, neste texto, todas as referências e pronomes direcionados a uma só pessoa, ele só, a quem se dirige esta memória, e não ao sujeito mais próximo, como pede a gramática.<br />Hoje, eu sinto saudades, e foi o sentimento mais presente nesta última virada de ano, por ironia que seja este inexplicável desconforto originado da ausência o que houvesse de mais presente em mim. Por superstição, eu poderia considerar que este ano eu sentirei saudades. E esta saudade é seguida de um desassossego de não conseguir pensar ou organizar meus sentimentos em idéias, nem minhas idéias em atos, tornando-me, mais uma vez, dispersa, negligente e muda. E desta mudez, eu tenho medo de não dizê-lo, da negligência, tenho medo de deixar para lá até que já não doa, e da dispersão, medo de perdê-lo para o vento ou para idéias fantasiosas, idealizações ralas ou ocupações sem causa.<br />Claro que, se me fosse possível fazê-lo, eu guardaria nestas linhas todos os momentos, os nossos, desde aqueles que somente me divertiram em serem planejados, feitos de empreitadas loucas, viagens ou cochilos encalorados numa tarde útil, ou aqueles poucos que existiram, que de tão parecidos tornaram-se quase rotineiros e, ainda mais por isso, fáceis de se misturarem na confusão da cabeça quando a memória passa a enxugar as informações que, pelo seu processamento frio, devem bastar se forem reduzidas a uma só que, afinal, sirva para informar o mesmo que as outras, confuso. Guardaria, ainda, nossas conversas, os diálogos sóbrios, os embriagados, os <em>non-sense</em> e os que não chegariam a lugar nenhum, só para que estivéssemos um ouvindo a voz do outro. Ainda, guardaria alguns, talvez, dos diálogos inventados por mim, nos momentos de inquietação e ciúmes, ou saudades, ou ansiedade, de raiva ou desejo. Guardaria, sobretudo, nossos silêncios, quando a conversa se resumia toda no aquecer mútuo de nossos hálitos.<br />Se conseguisse, eu escreveria seu rosto como é hoje, assim como o meu, para que não envelhecessem, ou para que algumas de nossas expressões não mudassem, esculpidas pelas palavras como em mármore, numa estátua que nos eternizasse em alguns momentos; a sua cara de susto, o seu olhar de sorriso, ou mesmo aquele desolhar de soslaio, negligência ou distância. De mim, eu guardaria algumas expressões que eu me lembrasse ter lido no seu rosto, refletidas nos olhos, ou algumas que senti, como um sorriso ruborizado.<br />Mais indescritivelmente, já que falo do inefável, eu tenho uma vontade de guardar para sempre, senão a sua memória impregnada em certas músicas, ao menos a sensação de ouvi-las, a sua imediata e inevitável presença em mim, ou de algum dia nosso, algum sentimento ou história, ou ocasião, seja a referência por culpa da letra, do que tocava naquela hora, do que foi recomendado ou do que foi sentido. Tenho até álbuns em seu nome... E ao mesmo tempo em que os devo continuar escutando, já como outros homens, em outras noites, entre tantas pessoas diferentes, eu guardo um sentimento quieto e uma vontade de parar, sair, de me distanciar por um momento da conversa ou de interromper o que houver, para, sozinha, escutar e me esforçar para lembrar ao menos um pouco do que aquilo me significou um dia.<br />O que eu sinto dele é uma vontade de sentir. Além da sua ausência, da saudade dele, uma saudade da saudade, dos sentimentos, da importância, da sua imprescindibilidade diária para mim. Sobretudo, este sentimento desconfortante de ausência, seja de memórias, de registros; fotos ou definição, dos momentos, de sentir, ou dele mesmo. Para não mencionar a ausência de palavras e esta solidão imensa. Ainda, é reconfortante sentir saudades, ou esta inquietude, seja o que seja, pois é qual fosse a sua memória, ou de nossa vida, presentes em mim.<br />E enquanto, na vida, eu sentir saudades, a memória vai processar tudo friamente nostálgica e, numa referência óbvia, me fazer me lembrar dele, assim como quando me inquietar essa solidão sem fim. Ainda que eu não me lembre da cor dos seus olhos. Eu vou sentir, sem saber.<br /></span><br /></span><br />Laís de Oliveira<br />06 de Janeiro de 2009, madrugada<br /><br />(Post das Quintas-Feiras em mais hora extra)Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-64921607801289092022008-12-21T11:52:00.007-02:002008-12-21T21:31:34.339-02:00Poema (Memória)<p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Temo esquecer seus olhos</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Como beijos </span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Se digerem, engolidos pela boca.</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Temo perder seus braços</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Como esfriam os nervos, sem o esquentar do abraço.</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;"><br /></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Temo perder seu riso</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Como os passos que não ecoam mais dentro do quarto.</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Temo perder meus passos </span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Em que falte</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Seu desnorteio, o norte que preciso<br /></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Nas suas noites. Sua valsa louca,</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Seu desatino, esse meu desespero.</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Temo esquecer o dia em que me veio</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Você e eu me esqueci dos planos</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Fora da sua vida </span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">E me embalei</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">No cambaleio leve dos seus passos.</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Temo</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;"><br /></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Esquecer que me arrastei por seus passos</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Que me ofereci, nua, aos seus braços</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Que enlouqueci no vício por seus risos.</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Agora, temo porque a noite passa</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">Que o temor se alivia com cachaça</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;">E te esquecer dói tanto, que é preciso. </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family:lucida grande;"><span style="font-size:78%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family:arial;"><span style="font-size:78%;">Belo Horizonte, 20 de dezembro de 2008</span></p><p class="MsoNormal" style="FONT-FAMILY: lucida grande;font-family:lucida grande;" ><span style="font-size:78%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-family:arial;font-size:78%;">Laís de Oliveira</span></p><p class="MsoNormal" style="FONT-FAMILY: lucida grande"><span style="font-size:78%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family:lucida grande;"><span style="font-size:78%;">[Postagem das Quintas Feiras fazendo hora extra]<br /></span></p><p class="MsoNormal" face="lucida grande"></p>Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-60134623799077242922008-11-27T00:48:00.008-02:002008-12-04T00:19:01.436-02:00Calendário<div align="right"><span style="font-family:lucida grande;">"Remember we used to dance"</span></div><div align="right"><span style="font-family:lucida grande;font-size:85%;">Stay or Leave, Dave Matthews</span></div><div align="left"> </div><div align="left"><span style="font-family:lucida grande;">No calendário<br />Os dias são escassos<br />Para que nos tenhamos<br />Nossos passos<br />Estão desajustados e sem ritmo<br />Estão descompassados.<br />Houve um dia<br />Em que dançamos sem pedir, da noite,<br />Mais que o escuro<br />E hoje, a noite é rara<br />Por nossa exigência<br />Ou nosso descaso<br />De não saber o que fazer conosco.<br /><br />Um dia, embora o céu fizesse claro<br />Eu te esqueci nas nuvens que passaram<br />Eu te perdi num resto de poesia.<br /><br />Laís de Oliveira</span></div>Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-60536730644635065842008-11-20T10:44:00.008-02:002008-11-20T11:46:02.635-02:00Mate Couro<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-peNsRgimoCjxCUPe6l3Seu4_-cwl6QXr58llj0qf1K-wYcycQG8XLC2IgiwkCyShpCFYqol9RZlekXvlxKt09fXbf0orVm9mcixMsQczAb4ko9EmI_uiTlbkBfiQdFN6QcocfDPEq8M/s1600-h/164.JPG"></a><div><br /><br />O gosto de mate couro me remetia à infância, quando a gente parava, quente, de brincar, com os rostos vermelhos e as mãos esfoladas de poeira e asfalto. Naquelas goladas, se sentia apenas a satisfação pelo alivío do cansaço não sentido, na correria por brincar cada pedaço de dia. Daí era injustiça com a canseira que trabalhava na gente sem dar efeito e um gasto de Mate Couro, que aliviava a gente sem ter sentido, de canseira... Pra não falar no sol que nos transpirava o <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhQ1TvVGYq4by52jOAsvSIoWu_0FE6HBQmkiPflAIu63ONxITZBHmErmsgO0IkhnDLjqoA7aUbKt1s8A2WgP4Fmp0pughsSGZfJcBsHhLXBIJ3yK3ev-0bPcOtZ2NEYgYH9NG0jmx8oTI/s1600-h/madalea.jpg"></a>rosto e a gente nem, esse suor, sentia, ou então se achava bom, pra ver quem era o mais suado. Criança é, sobretudo, algo sem compromisso.</div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div>Laís de Oliveira</div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxFqBcTjOorW8fSS6iHBq2Z2YcrafImGDz3_sEGrrnV8RiO1q1_AZwWka5i-d1Q7LsJVFWn-f6mt34nnO6LM3GnZxTYLq-hzzya0o4GKRHNdHhnLFWrB2O-oTghPbodfwRTgH99jrH_eU/s1600-h/madalea.jpg"></a></div>Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-32208803723572927422008-11-13T23:40:00.003-02:002008-11-13T23:47:52.928-02:00Quase madrugadaA paisagem noturna da cidade parece abrigar luzes mais brilhantes, neste dia após a chuva.<br />Uma música nostálgica me faz lembrar da falta de você que era um onipresente inverso, quando eu não te conhecia.<br />Agora ouvi-la me faz ter saudade de te sentir nas coisas, para suprir sua falta em café, sorvete ou teatro e não morrer de vazio.<br />Agora a noite limpa me remete ao seu olhar que eu já conheço, e no entanto nem sequer sei se está distante, nem se o não estaria, em que estivesse perto, fisicamente.<br />Sobretudo eu tenho falta de você antes do que era, quando era o verbo e a imagem criada em poesia. <br />Por fim resta a certeza de que não merece, nenhum inclinado a poeta, conhecer o motivo de sua poesia, pois que sem ele é que esta existe. Que a presença da musa é por demais intensa que se exprime ao vivo, que o poeta desmerece o papel.<br />Quiçá você fosse quando o meu verso o era e eu não te perdesse para escrever poesia.<br />Deus me livrasse desta noite limpa, e destas luzes da cidade estreladas sobre o asfalto, e sobretudo desta poesia desvairada que esta falta me inspira. <br /><br />10/11/2008<br /><br />Laís de OliveiraMaria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-17901335531057568312008-09-25T15:54:00.003-03:002008-09-25T16:00:04.832-03:00Soneto aleatórioSeus olhos ‘inda se sossegam, claros<br />Nos meus, no entanto eu não os tivesse quisto<br />Lembrar e os escrevi pra esquecer, visto<br />que a poesia é, do esquecer, o amparo.<br /><br />E eu quis tranqüilizar-me n’alguns raros<br />Versos para esquecer-te, no que insisto,<br />No que não há sucesso , no imprevisto<br />Desejo meu por seus olhos, avaro.<br /><br />Que eu me sossegaria se os meus versos<br />Bastassem pra escrever isto que os cria,<br />Que me corta, rasga, me beija, existe<br /><br />Em desnorteio, em meus olhos dispersos<br />Na minha abstinência de poesia<br />Pra te lembrar mais puro e eu, mais triste.<br /><br />Laís de OliveiraMaria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-68418290157836815092008-09-17T20:36:00.002-03:002008-09-17T20:38:57.693-03:00Para esquecer de esquecer.Eu não conseguia me mexer. Estava lá, há cerca de uma hora, olhando fixamente pela janela do 13 andar do prédio da graduação. Precisava me mudar, então gastava meu tempo olhando os prédios à minha volta e pensando se algum deles me faria sentir bem, em casa. Depois comecei a prestar atenção nos ônibus que passavam na avenida. É impressionante o poder de visão que minha lente de quase 6 graus me oferece. Também, puderas. Qualquer coisa, menos aula. Aquela mulher me irritava profundamente. Sabe aquele tipo bem feminista que se recusa a usar sutiã, salto ou se depilar? Abomino. Entretanto, meus problemas estariam reduzidos a quase nada se a aula dela fosse interessante. Enfim, a cada prédio que eu observava, a cada ônibus que passava, era mais uma pequena parte da promessa que eu havia feito a mim mesma sendo desfeita. Queria prestar mais atenção às aulas, ser melhor aluna e parar com essa mania de beber dois litros de café e estudar de madrugada um dia antes da prova. Mas desde minha volta eu ando vivido em um estado de dormência que eu apenas desperto quando algo de realmente ruim acontece. A saída repentina do meu apartamento foi uma delas.<br />Eu não realizara o quanto eu gostava daqui até pensar em sair. 30 dias, o prazo. Não sou de me apegar a lugares, casas, mesmo porque meus pais nunca tiveram moradia fixa, desde criança já devo ter me mudado umas 12 vezes. Mas o dia seguinte da notícia me mostrou algo diferente sobre esse lugar. Acordei, olhei pro ventilador do teto e pensei o quanto eu iria sentir falta de acordar e olhar para ele. Bizarro, principalmente se levar em conta que eu nunca o liguei. Não consigo lidar com qualquer objeto que faça barulho em intervalos fixos, eu fico louca – sabe aqueles relógios de 1,99 que fazem tic tac? Todo lugar que eu vou e tem um desses as pilhas somem misteriosamente. Bem, talvez esse sentimento seja explicado porque aqui foi, de fato, a minha casa desde mudei pra Bh. Não é a primeira, mas é a única que me fez sentir como se eu pertencesse aqui. Além do mais, nada como morar com gente normal, ou quase. (ahh, pro inferno com a hipocrisia, de perto, ninguém é normal.)<br />Mas o susto passa e a dormência volta. Meus dias têm sido tão ociosos que sinto falta até do desespero da semana de provas finais, quando ficar acordada ao menos fazia algum sentido. Ando assim, a passos tortos e sem rumo, um rosto sem expressão, uma boca sempre calada.<br />Quem sabe passa, quem sabe...<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />(Texto antigo, achei por acaso enquanto jogava coisas inúteis na lixeira. Este foi quase. É apenas pra lembrar daqui, de como gosto..)<br /><br /><br />Ah, só pra constar, tirando os alarmes de carro e o ônibus verde com o número 33, tudo está no caminho certo agora.<br />=)B.G.http://www.blogger.com/profile/02209620834424223363noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-65045594824862731122008-08-21T01:38:00.005-03:002008-08-21T01:48:03.216-03:00Psicodelias<blockquote>"Hike up your skirt a little more<br />And show the world to me"<br /></blockquote><br /><br /><br />Volta agosto e minha vida é como se fechasse em um retrospecto, num dejá vu latente e interminável que me constrangesse a receber o presente como uma memória de passado. <br /><br /><br /><strong>Do sonho da casa das bonecas de bochechas envernizadas e do banheiro dourado: a rua</strong><br /><br />Certa vez, sonhei com uma rua pequena e velha vista de um dos lados da calçada, do lado de onde havia uma casa cuja entrada era um misto da casa de minha avó em Lavras com uma casa suntuosa, como um castelo, com uma torre vertical e cômodos que eu desconhecia. Na subida da escada em espiral, de metal negro belamente detalhado, havia um piso superior que dava tão só num banheiro pequeno e dourado, mui digno de um rei, ou antes, de sua esposa, uma princesa descrita na delicadeza rósea e áurea das paredes e privada. Na casa de tantos cômodos havia moças belas como princesas e artificiais como marionetes de verniz, de um lustrado avermelhado nas bochechas, tão plástico que pareciam esculpidas, pinceladas em madeira, e que de tão falsas eram estranhamente belas, dos cílios postiços longos e muito pretos sobre olhos intensamente azuis como vidro, aos narizes esculpidamente finos e os lábios muito vermelhos e bochechas brilhantes de rubras (rubras, porque o vermelho não as alcançaria). Na cabeça, um adornado longo e ondulado de ouro ou de carvão muito intenso. No sonho eu não sabia se eram bonecas ou moças que tanto se agravaram na sua beleza que se envernizaram, todas, e se esqueceram de algo mais, além do nome, das vontades e delírios. Eu sei que não me compreendia, se atordoada, se estonteada com a beleza frágil das bonecas, com suas beldades enfurnadas pelos cômodos da casa. Não sabia se admiração ou medo, mas era como sentir-me humana, de pele flácida e inquebrável, e de rosto pálido, como sem tinta. Me sentia, antes de tudo, natural e era como se estivesse ali de visita, chegada de viagem, mas como se alguém me quisesse presa como elas para a vida, talvez o rei do qual o banheiro era digno, e talvez eu me lembre também de seu rosto de marionete adocicada, das bochechas de maçã caramelizada. O tempo que passei naquela casa eu nunca soube, mas algo me prendia como vício, comiseração ou encanto pelo senhor que mantinha as senhoras róseas e douradas, porque eu estivesse lá por um motivo mais e único, que se comprovava pelo fato de eu não ter as bochechas róseas, mas dúvidas. Não sei por que nem por quanto fiquei, até que me senti um dia com os cílios longos e os cabelos volumosamente brilhosos, íntima da escada em espiral que levava ao banheiro superior e acomodada pela proposta do senhor das bochechas róseas. Lembro num desfecho de ver novamente a rua (e no meio tempo entre as princesas e então parecia não ser a primeira vez que eu me colocava entre a rua e a escada do banheiro) e de me despedir daquele senhor sem tristeza, nem cabelos longos ou bochecha rósea, mas com uma nostalgia como por um amor que se sabia inexistente, mas se sentisse. Lembro de pessoas que vieram me esperar como se eu voltasse de um cárcere... e não me lembro de muito mais (mas que deixei outra donzela mais condizente que eu na calçada com aquele rei sem nobreza, feito plebeu ou boneco de cera pelos tempos modernos. Lembro de nostalgia.<br />Na verdade eu nunca compreendi ou o quis, este sonho, nem entanto me preocupei, e no entanto agora ele me vem com uma aura nostálgica de presságio antigo, como tivesse um lado premonitório desde aquela época. Mas nem o lembro quando sonhei ou o porquê das figuras engraçadas, medievalizadas e românticas, em marionetes envernizadas. A verdade é que nem hoje o compreendo, necessariamente, mas é como se ele fizesse parte da seqüencia de dejá vus que tem me perseguido. Haja significado, haja sentido ou não, certo que vai para uns cinco anos atrás que o sonhei. O que há de presságio é a semelhança de algo que sinto agora e que senti neste sonho, que me fez reconhecê-lo novamente e descrevê-lo na esperança de que me dissesse algo...um sentimento de nostalgia que me faz sentir uma dor de ter abandonado algo que nunca me seria dado e não sei quando o tive em mãos, numa posse fugaz por mera diversão do tempo em saber que o meu futuro o abandonaria, mas no entanto o tive que conhecer para me responsabilizar, sozinha, por abandoná-lo.<br />Por teimosia, se não houver sentido, eu culpo as circunstâncias. <br />Sobretudo, não é amor, mas nostalgia.<br /><br />Laís de OliveiraMaria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-90880164329542996302008-06-27T01:21:00.006-03:002008-06-27T09:33:14.528-03:00MêsSaudade de te ter sem te sentir, sem ter sentido, sem saber. Saudade de te ser sem ser lembrada, de saber te ter comigo sem chorar, sem ter sentido. Saudade de te saber antes de tê-lo sentido. Saudade de você como era quando eu me esqueci do rosto dos seus amigos. Quando eu te sabia pouco e só.<br />Quando eu te conhecia mais que a noite, mais que o álcool, mais que você mesmo.<br />Vontade de que eu fosse sempre isso e nunca mais pernas abertas sob a almofada para receber o laptop numa madrugada fria.<br />Antes você estivesse aqui e eu não mais escrevesse.<br /><br />Saudade te começar comigo.<br /><br />Laís<br /><br />(texto das QUINTAS FEIRAS, atrasado)Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-34194769526284626742008-06-16T00:08:00.001-03:002008-06-16T00:15:25.161-03:00Só queria que você soubesse...Sempre que via as pessoas juntas, se amando, eu pensava que um dia ele ia chegar. Não um príncipe montado num cavalo branco, mas alguém especial que quisesse me doar todo o seu amor e recebê-lo de mim, desta vez, sem reservas.<br />E onde estará ele? Se puder me ouvir agora... Que chegue logo! Tenho medo de que ele já tenha chegado e eu, com todo o meu orgulho e timidez não o tenha notado ou esteja desprezando-o não por ser impenetrável, mas por não conseguir me aproximar.<br />Sei que preciso mudar isso em mim, essa paralisia injustificada, mas infelizmente é isso que acontece com os poucos homens que me tiram o controle da situação e, depois de um tempo, de mim mesma.<br />Não consigo mais prever todos os comportamentos, sinto que nesse momento estou envolvida, de corpo e principalmente de alma, em uma situação, quiçá relacionamento, que não tem começo, não tem meio e não sei se um dia terá fim, já que isso nunca começa para valer.<br />E sei que perder o controle me desestrutura inteira, me deixa numa tontura irresgatável, um mergulho que prefiro me afogar a ter que voltar à superfície e enfrentar uma situação de desconforto e, pior, descontrole.<br />Existe alguém... Mas não o conheço por completo, não sei por onde ele anda, o que pensa de mim, o que almeja e o que sente. Não sei nada. E daria muito para descobrir tudo isso e me aproximar dele, mas parece que ele também fica paralisado, ou talvez não se importe comigo.<br />Um dia, quando nos encontramos e disse estar exausta, ele sugeriu: “Escreva!”<br />E aqui estou eu... Tentando colocar em palavras o que não sei estar sentindo. Tentando transpor uma confusão de sentimentos que se entrelaçam e voltam a se desfazer, que se encaixam e se desencontram quase que ao mesmo tempo.Você é confuso, é complexo é do jeito que eu gosto... Se tivesse coragem conversaria com você, te pararia no meio da rua e diria tudo que está passando pela minha cabeça, te seguraria pelos braços e faria você desvendar todos os mistérios que aparentemente esconde e, principalmente, faria você me dizer o que realmente pensa e sente por mim. Juro, eu agüento se disser que não sente nada, se disser que não quer se envolver. Eu agüento! Pior, é não saber... Pior é deduzir sem certezas, acreditar sem ver concretamente. Nunca fui boa em abstrações, tampouco em subjetivismos. Só queria que você soubesse, talvez isso facilitasse um pouco as coisas...Armanda Florhttp://www.blogger.com/profile/15178033900086927139noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-537884767927451972008-06-05T15:13:00.012-03:002008-06-05T19:41:45.025-03:00Sem título<div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"><br /><br />Eu gosto de você<br />qual escrevesse<br />um verso entre o susto e o riso<br />como<br />não esperasse despertar </div><div align="left">com sono<br />a música favorita na rádio.<br /><br />Eu gosto de você<br />como encontrasse<br />num livro velho, um bilhete antigo<br />como matasse saudade<br />qual fosse<br />fazer as compras do mês<br />e voltasse<br />com flores entre o arroz e o limpa-vidros<br /><br />Eu gosto<br />qual bagunçasse os cabelos<br />de estrada,<br />do vento de mato e asfalto<br />Gosto<br />como me esquecesse das horas<br />pela conversa<br />em tardes sem sentido<br /><br />Gosto qual visse, fosse, ouvisse, errasse<br />como tolice, doce, abraço, almoço,<br />Viagem.<br />Gosto como se amasse.<br /><br />Eu gosto de você,<br />no entrelaço<br />dos nossos dedos.<br />Gosto </div><div align="left">do que quer que fosse<br />que envolvesse ter você comigo.<br /><br />Laís de Oliveira<br /><br /><br />"Well the stars up in the sky and the leaves in the tree</div><div align="right">All the broken bits that make you trip up and the grassy bits inbetween"</div><div align="right">Birds, Kate Nash.</div><div align="right"></div><div align="right"></div>Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-71236331429217854072008-05-29T18:42:00.001-03:002008-05-29T18:53:59.788-03:00A PraçaUm casal posa maquinalmente fotográfico neste clichê de coqueiro e flores. A praça nunca esteve tão bonita.<br />Logo uma noiva vai posar, sem graça, suas futuras memórias sugeridas por um fotógrafo que a desconhece. Ao fundo, um relance de bicicleta esquecida no cenário e algumas caras que a noiva desconhece. A praça nunca esteve tão aflita de ser algo além da grama.<br /><br />Laís de OliveiraMaria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-67290183811899434912008-05-22T18:48:00.008-03:002008-05-22T19:24:32.143-03:00Fossador de garganta<br />fome<br />esse meu ar<br />de aborrecimento<br />a dor sem nome<br />arde feito cachaça<br />desce insone<br />nas noites sem motivo<br />amor se come<br />de gula - engole , traça -<br />feito doce.<br />e se enfastia<br />como quem não possa.<br />má-digestão?<br />música triste, passa...<br /><br />bebo Jacques Brel feito digestivo<br />com goles dolorosos<br />de cachaça.<br /><br />Laís de Oliveira<br /><br /><div align="right">"I took my love down to Violet Hill"</div><div align="right"> </div>Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-29227208021109831932008-05-20T18:58:00.002-03:002008-05-20T19:19:54.514-03:00Sangue e aguardente<div align="right"><span style="font-size:78%;">"Das brigas que ganhei,</span></div><div align="right"><span style="font-size:78%;">nem um troféu pra casa eu levei</span></div><div align="right"><span style="font-size:78%;">As brigas que eu perdi,</span></div><div align="right"><span style="font-size:78%;">essas sim eu nunca esqueci"</span></div><div align="right"><span style="font-size:78%;">Pato FU</span></div><br /><br />Era como se eu ainda ouvisse as vozes na minha cabeça, você é um rapaz de família, olha lá se isso são jeitos, tenha compostura. Mas na hora nada pareceu adiantar. Eu não sei o que incendiava mais, a cachaça barata que desceu intragável pela garganta, o sol quente fritando meu couro cabeludo, ou a raiva que me subia pelas bochechas e me fazia cerrar os pulsos. Eu sei que não devia, mas tem muita coisa que a gente não deve fazer sabe, mas faz assim mesmo. E no fundo, parece que esse é que sou eu. Comigo é no tapa e no grito. E no pranto, mas esse eu deixo escondido, porque garotos não choram.<br />E não dá pra dizer o que é pior, as cãibras por todo o corpor, o asfalto quente como inferno me lixando o rosto, ou o gosto amargo na boca, de aguardente, sangue e poeira. E,algum motivo, que está além da minha escassa capacidade de compreensão, me faz crer que ser o perdedor ainda é mais saboroso.<br /><br /><br /><br />nov 2005- Com os devidos créditos ao Felipe, que me serviu gentilmente, de modelo real. Suprimi os fatos, pois não são dignos de serem relembrados.C. Melohttp://www.blogger.com/profile/11016254614683503577noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-77914097779859451682008-05-17T23:03:00.005-03:002008-05-18T20:54:45.095-03:00InérciaPoderia repetir as palavras de Cê e dizer que a metrópole anda impedindo meus escritos aqui - o que não deixaria de ser uma verdade - mas não poderia deixar por isso só. Vontade de escrever até tenho tido, mas tudo me parece tão velho e gasto que não acho que vale a pena colacá-las (palavras) aqui. As coisas tem dado certo, o caos aos pouco foi se esvaindo e eu até sinto uma paz que há muito tempo não sentia. O que não muda sou eu. E qualquer coisa que eu escrevesse aqui, por mais que fosse algo novo pra mim, ainda teria aquele cheiro de livro velho, folhas amareladas e milhares de digitais.<br /><br /><br />As marcas que ficaram não são apenas marcas, se tornaram parte de mim, e nem cirurgia plástica resolve.B.G.http://www.blogger.com/profile/02209620834424223363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-47524983316129873742008-05-14T14:12:00.003-03:002008-05-15T12:44:30.829-03:00Pela ruas da capitalOntem Lais me cobrou escritos, eu fiquei sem respostas.<br />Saí pelo centro hoje, buscando inspiração: pela Rua Carijós e seus predinhos ocupados por oticas e relojoeiros;pela Galeria do Ouvidor, e todas suas cores;pela Galeria do Rock, que de rock já quase não tem nada; pela Rodoviária, e suas gentes que chegam e que vão; até parei em frente ao Pirulito na Praça Sete, olhei pro céu e tirei o fone do ouvido para escutar o vai-e-vém frenético da cidade. Mas de nada adiantou. Continuo apática, preferindo as paredes lilás e o silêncio do meu recanto interiorano. A metrópole tem deixado meus neurônios carcomidos. Resultado: paralisia criativa.<br /><br />Não me venham criticar meus textos, pois, se os aqui escrevo hoje, é pela simples sensação de dever cumprido.C. Melohttp://www.blogger.com/profile/11016254614683503577noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2797657908269044726.post-50383749254082976892008-05-01T20:34:00.004-03:002008-05-01T20:51:44.036-03:00Lua<div align="right"></div><div align="right">Pendurei-me na janela</div><div align="right">e guardei a lua só pra mim</div><div align="right">como um segredo</div><div align="right">e mostrei-a murmurando</div><div align="right">em seu ouvido</div><div align="right">teu segredo</div><div align="right">por ser tão somente meu.</div><div align="right">E só eu olhei teus olhos</div><div align="right">quando ninguém</div><div align="right">- e nem eu -</div><div align="right">os via.</div><div align="right"></div><div align="right"><br />Uberlândia, 2007</div><div align="right"></div><div align="right"><br />Laís de Oliveira</div>Maria Rosahttp://www.blogger.com/profile/03737902517589607155noreply@blogger.com1