A ausência de Ferdinand me ansinou a amar Franz, que por vezes estava mais longe do que o próprio Ferdinand, que habitava muito além mar. E um se tornoun a extensão do outro, como as duas Berlins, e eu era o muro que ligava esses dois mundo tão diferentes. Ora eu amava Franz, meu amante ocidental, ora eu amava Ferdinand, com seu charme quase clandestino de Europa oriental. E quando eu falava com Franz, olhando nos seus olhos negros como a noite, eu podia ver o reflexo dos olhos azuis de céu manhã de Ferdinand. E nas madrugadas insones que eu passava contando segredos de amor para Ferdinand eu olhava ansiosa para o telefone, esperando por Franz que não me ligava. E nos meus sonhos confusos, Franz era Ferdinand e vice-versa. Um se misturava no outro de forma tão intríseca que por vezes eu já não mais conseguia distinguí-los. A mesma pele branca, os lábios rosados, as camisas pretas. E numa alucinação embriagante eu via um na imagem do outro. Por esses dias que eu passei a amar Franz como eu amava Ferdinand, eu devaneava por horas, quase acreditando que eu poderia ter ambos. Que eu seria duas em uma só, por vezes na correria racional do Ocidente, e por outras na quietude quase febril do Oriente. Franz era a Berlim ocidental, pela segurança que me dava, ele era daquele amor que constrói todo dia, que precisa de investimento constante; E já o amor de Ferdinand requeria devoção total, como a dos comunistas, pedia renúncia a tudo com o que eu já havia me acostumado. Eu queria tanto os dois, queria Franz e queria Ferdinand, eu queria Franz Ferdinand. E essa paixão dividida, foi virando transformando em meu íntimo em agitação que culminaria em guerra; guerra de mim contra mim mesma.
Postado por: Anne Keat
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