segunda-feira, 24 de março de 2008

Resquícios

Dividiram-me ao meio
Minhas metades, freneticamente, subdividiram-se.
Regeneraram-se, formando novas células.
Embriões
Falta-lhes um sopro de vida.
Sinto que perdi o elo da minha congruência
Não só falta coesão às minhas palavras, mas também a mim ela carece.
Não há nada
Nem lampejo
E volto aos pedaços de mim, espalhados por entre os vãos dos dissabores, dos sentimentos,
onde a vida passa e transborda, onde a existência não limita o ser.
Há partes que se soltaram,
fuligem que paira junto ao ar
mar de água que evapora
parte do todo, sal do oceano.
Há frações de mim que se perderam no tempo,
nos capítulos da minha vida
na melodia do meu viver.
Há sonhos que se tornaram fumaça cinzenta.
Lembranças me revolvem inteira
Pá que movimenta folhas secas de denso jardim
Sou outono
Folhas titubeantes e secas caem
O vento as espalha pelo mundo afora
Há frações por toda parte
Minha vida é um des (fracionar) incessante
Parte de todo luminoso,
Espelho em partes refletidas.
Encontro resquícios de mim por todos os cantos,
porque tudo o que existe parte de um mesmo grão.