segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Destino construído

Ele não sabia, mas era o único que a fazia perder o controle. Quando o via, ela prendia a respiração como que leva um susto e o mundo a sua volta se desconstruía por inteiro. Embora ele não soubesse, aquela era a mulher da sua vida. Quando aparecia, arrancava com os olhos tudo do lugar, era um vento forte que desmanchava as estruturas fixas que havia ali. Era a mulher que o fazia se sentir vulnerável... E vivo.
Entre um desencontro e outro, trocaram algumas palavras num dia frio, um dia qualquer. Ela sentiu que tinha dito tudo errado e colocado todas as palavras numa ordem estranha e desconexa. Ele, com o coração aos tropeços, acusou-se de ser um completo idiota e não conseguir juntar frases simples e banais quando, por um instante ímpar, olhou com desvio e medo para aqueles olhos.
Era noite, dia dos namorados, ambos lastimavam não ter um par para aquela ocasião. Não uma pessoa por quem dariam suas vidas, ou com quem certamente se casariam. Lamentavam não ter alguém por quem se preocupar e cuidar sem medo de ser excessivo, alguém em quem pudessem pensar ao ouvir uma música lenta ou um poema romântico, alguém que fosse uma boa companhia e desse uma história de amor, sem maiores adjetivos. Ele a levou em casa. Conversaram banalidades, o tempo, as aulas, as férias, a vida. Ela pensou em oferecer um chá, talvez uma cerveja, ou um vinho que não tinha, mas ficou receosa do que ele pudesse pensar. Não disse nada, nem mesmo agradeceu a companhia. Ele foi embora, tinha aula de francês no outro dia. Ela entrou em casa e foi escrever um poema. Ele, achando que estava indo longe demais com tanto platonismo fora de moda e ela, sofrendo por não identificar nenhum sinal de reciprocidade, escolheram, cada um com seu nervosismo latente e ansiedade, se esquecerem para sempre. Decidiram que deveriam procurar quem deles gostasse.
Encontraram amores desejáveis e invejáveis, mas nenhum que valesse as quatro letras proferidas com veemência e violência, nenhum que fizesse do mundo um inferno bom.