quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Quando eu crescer... eu quero ser grande!

No canto direito da sala, na primeira carteira, fico olhando o professor de Sociologia dizer palavras incompreensíveis, frases avulsas que não me passam nada. Ele parece estar no automático; não exibe qualquer tipo de emoção, muito pelo contrário, mostra uma indiferença assustadora ao fato de que no fundo da sala há um imenso barulho e que, a pequena parcela que não está fazendo outras coisas se encontra com um olhar distraído em algum ponto lá fora, através das janelas sujas de lodo.

Eu sempre quis fazer Direito. Quando criança, nunca quis ser médica, astronauta, bombeiro... Enfim, essas coisas que toda criança sonha. Não sabia o que eu queria, mas de qualquer maneira, não me interessava, eu me contentava em ser criança e sabia que não precisava pensar naquilo. Decidi qual curso faria ainda na quinta série, de maneira fácil: minha mãe fazia, fui em algumas aulas e pronto, era aquilo que eu queria. Nunca nem cogitei mudar de idéia.

Não tinha todos os planos arquitetados, aliás, não tinha quase nenhum Sabia que queria mudar de cidade, e que, para isso, eu teria que passar em uma faculdade federal. Sabia também que não queria ser aquele tipo de advogada arrogante que parece um manequim de loja, não por ter ideais de humildade ou coisa do gênero, longe disso, mas por motivos como “andar de salto dói o pé” e “viver de imagem, com o passar dos anos, deve se tornar algo bastante cansativo”, além disso, sempre tive aversão a estereótipos.

Meus desejos não estavam além daqueles de qualquer um. Queria estudar e trabalhar, mas não abriria mão de tempo para fazer aquilo que eu gostava, pois sabia que era algo que ainda faria muita falta com o passar dos anos, e que, caso fizesse, jamais me perdoaria por ter perdido o meu presente pensando demasiadamente no futuro.Queria ter dinheiro, mas não estaria disposta a ser refém dele. Queria ter minha liberdade, sempre, mas não significa que eu hesitaria em me prender a alguém, criar laços...

Então, olhando o professor, eu penso: é aquilo que ele queria pra vida dele?? Aquilo parecia tão... vazio. Afinal, planos são apenas planos e quem eu sou e decido ser na verdade significa pouco, ou quase nada, diante do que há de vir. Quantas vezes, nem poderia contar, meu planos saíram dos eixos e tudo acabou se perdendo de maneira incontrolável e, às vezes, dolorosa, sem que eu pudesse ao menos ver onde foi a falha? Ou se foi minha a falha... Mas talvez seja exatamente esta a beleza dos planos, o fato deles existirem sobre um futuro incerto e, ao mesmo tempo, excitante, que me amedronta e me encoraja.

Seria monótono viver apenas de presente, desperdício viver de passado.







P s : eu quero me formar em direito tributário, ser rica, casar aos 29, ter dois filhos e ser uma coroa gostosa.




por B.G.!