domingo, 23 de setembro de 2007

Do dia em que Marieta nao conseguiu dormir

Eu daria tudo por uma dose de vodca agora. Tem noites que o dia insiste em não nascer. Minha cabeça está cada vez mais achatada no travesseiro, o teto do apartamento esta me sepultando na minha própria cama. A minha boca pedindo o gosto inebriante da vodca. A insonia me descontrolando, os calmantes secaram minha boca. E eu so penso na vodca. O apartamento está cada vez menor. Os barulhos da casa me deixam louca. O ralo engolindo a dor, a porta rangendo a ira, o vento se debatendo na janela com força arrebatadora. Essa noite eu nao consigo mais resistir, nao sem a minha vodca. Amanha eles vem me buscar, vao ver minha olheiras, os cacos de vidro pela casa, o meu rosto unhado, os cinzeiros transbordando. Amanha eles vao me levar para o medico, e eu vou fazer todos os exames, de novo. O medico vai me perguntar tudo de novo, da minha infancia, das minhas preferencias e dos meus medos. Eu vou dar as mesmas respostas vagas, e vou pensar na vodca. A culpa e do teto do apartamento, que toda noite rebaixa-se até quase me esmagar. A culpa é da vodca que acabou. O médico vai me olhar, vai pensar na minha vida sexual, vai me olhar com a caneta em riste, vai sentir um pouco de pena de mim e da minha vida mediocre. Vai lembrar do cheque no final do mes e vai me dar um diagnostico qualquer, que eu vou ouvir displicentemente. Vou olhar pro relogio e calcular o tempo entre aquela chatice e a vodca e vou prometer dar o melhor de mim e melhorar. Mas é mentira. Eu vou continuar querendo a vodca. Mas pelo menos amanha eu vou ter a receita e vou passar na farmacia e comprar minhas drogas. Mas enquanto o dia nao amanhece eu me sufoco com o travesseiro, engolindo o grito, rasgando o garganta. Ah, se eu pudesse beber a minha vodca!


Postado por: Anne Keat