quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Diálogo com ramos, rosa e barros

(ensaio de coisa sem final)

Um pássaro do qual não sei o nome piou três vezes infinitamente.
A noite vinha calma como quem anda na roça. Quieta, de ar parado, vinha lenta num andar de cores claras para escuras, degradando como quem atrasa o passo de ir ao chão. Vinha num caminhar manso que pára e colhe flores nos joelhos. A noite lenta vinha acompanhada do assovio deste pássaro do qual não sei o nome. Penso que nem a noite o sabe...nem entanto se importa ou pensa nisso em hora de apanhar estrelas.
Que interessa um nome seco que, falado, cala após e cessa? A ela, mais se presta o assovio que é contínuo, constante e repetido. Penso que música anda mais que nome e a noite pensa assim, comigo. A Serenata Noturna andou mais que Mozart: a noite se enche disso.
Eu ouço o pio como quem conversa e falo em tom de quem respira e troco notas de vazio com o assovio lá do pássaro e com o andar da noite.

Laís de Oliveira


imagem: Espantalho, de Portinari (1957)