sábado, 29 de março de 2008

Geriatria

Do nada, ele me disse: Te acho ranzinza.
Virei o rosto devagar, olhei em seus olhos, arqueei levemente minhas grossas e mal feitas sobrancelhas, soltei um "oh" meio mudo e voltei a fazer o que estava fazendo.
Não foi um 'oh' de ironia, desdém, ou surpresa. Foi automático.
Bom, pelo menos serviu pra ele ter certeza.
Então, não satisfeito, ele disse: "Por quê?"
"Coisa de criação", respondi.

Mentira minha. De todo jeito não poderia explicar. Não para ele.
Aliás, não poderia explicar nem a mim mesma. Não sei o que me aconteceu nem quando; não lembro de ter me visto e me sentido diferente, mas sei de uma maneira tão certa e minha que não é como se fosse essência, natural de mim.

Envelheci antes do tempo.

Perdi a conta dos finais de semana que passei em casa, não por falta do que fazer, ou por falta de companhia, mas me faltava ânimo, disposição, energia para sair dessa maldita inércia que assola meus dias.
Poupo-me para o que vale a pena, pensava.
Mas o que afinal vale a pena?
Se a verdade é essa, ando me poupando para o nada.


Ainda sim, hoje não sairei de casa. Pra que? ...




P s: Ontem a menina que mora comigo disse: Você é mesmo caseira hein Bruna?


Respondi: “oh”.