quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Do meu all star


Esses dias têm sido daqueles dias em que tudo que pode dar errado, com certeza deu errado. Mas, paradoxalmente eu tenho estado muito feliz, tão feliz que eu quase não consigo explicar. Eu achava que felicidade eu ia achar quando passasse num vestibular duma faculdade federal, ih ledo engano; depois pensei que eu precisava era de um namorado perfeito, desses lindos, quase um príncipe do cavalo branco, não é que ele apareceu, mas não adiantou nada; achei que era quando eu morasse sozinha; mudasse pro exterior; emagrecesse... eu tinha mil e uma idealizações grandiosas. E essa semana não aconteceu nada de notável. Eu adoeci, tive febre, quebrei a cara, tenho uma pilha de livros para ler, um trabalho chato pra fazer e uma casa pra limpar; mas de repente eu parei, olhei pra baixo, vi meu velho e sujo all star e me senti completamente feliz. Meu all star, que já deve ter lá seus três anos me mostrou quanta coisa boa eu tinha ao meu redor; em cada mancha dele tinham as marcas dos shows dos Los Hermanos, da chuva que tomei quando fui renovar meu passaporte, do trote do meu vestibular, de todos os dias que acordo sonolenta e o calço pra ir pra aula, das vezes que eu sentei com a Bárbara no chão da casa dela e falamos bobagem, dos cinemas que eu fui com o Bruno, da minha mãe querendo lavá-lo, do meu cachorro que mastigou o cadarço e etc.
Meu all star fuleiro passou então a ser o troféu da minha existência. De repente tudo começou a se ligar como que num tear mágico, todos os momentos que antes haviam passados despercebidos, desfilaram diante de mim, agora em câmera lenta e com zoom. O meu processo de desconstrução começara. Eu botei toda minha estabilidade a perder por um causa de um tênis tosco.
Meu apartamento que era tão pequeno ganhou dimensões inexploráveis, em cada canto um encanto. A rua hostil minha recebia com braços abertos, cada rosto se enrubescia quando eu passava, os prédios ficaram menos cinzas, e os carros menos barulhentos. A cidade então entendeu que por onde passavam meus pés calçados do meu all star, passava a felicidade.
Tudo se transformou. Os velhos moribundos nas calçadas se levantaram com seus trapos e dançaram com as madames, agora descalçadas de seus Pradas. os jovens descobriram soltaram seus planfetos e frases feitas e se juntaram à revolução da felicidade; as crianças mimadas, os cachorros vira-lata, o guarda mau-humorado, as mocinhas apaixonadas; todos em tom uníssono clamavam à felicidade! Felicidade que eu só pude ver quando meu all star roto, sujo e desbotado, se transformou em sapatos de rubi e me levou a passos largos pela estrada de tijolos amarelos para o mundo maravilhoso que está bem deabxio do meu nariz.

PS: Felicidade é a gente andar por aí sem ficar com o pé doendo neh?!


Postado por Cíntia Melo