quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Flores de Outubro


O céu toma trajes de outubro e eu lembro, como se me esquecesse, do último outubro que vi. Azul liso, estendido e com grandes nuvens algodoadas, feito tarde de ir à escola ou de pegar a bicicleta e andar no asfalto recém colorido de amarelo e rosa. Cor de tarde, enfim...de sesta, de meio-fio e café.
Parece que meu último outubro foi há doze anos.
Tarde passada, pediram-me que comprasse flores. De casa eu via, da janela, os telhados e as copas com o verde antigo do mês sobre o céu comprido e liso. Mesmo os prédios tomavam jeito de roça ou de quintal...o conjunto de telhas e concreto tinha feição de mercearia de currutela e fazia merecer um bom café com queijo de acompanhamento. Bala de caramelo e sonho de valsa, comprados com moeda tirada do cofre a palito. Da minha janela, tudo era quase uma beira de estrada. Mas por dentro, era, ainda, meio Agosto, tempo nebuloso de idéias sem pensar, início de semestre em fim de Julho, a contra gosto e indefinido. Saí para comprar flores.
Eu que, muito raro, uso vestido, estava com um verde nesse dia – algumas roupas te caracterizam, te vestem de alguma coisa além de tecido. As árvores também estavam com um verde...! Talvez por ocasião de outubro e, talvez, eu por ocasião de comprar flores. Não que o traje fosse proposital, mas, assim também, as árvores não sabem da existência dos meses. Pretensiosa a minha metáfora a respeito de mim e das árvores, mas eu era, então, algo a mais do que eu mesma.
Eu mesma iria comprar as flores. Sou meio repleta de cadências literárias, coisa de loucura, vem de Cervantes e não tem como não vir. Loucura de ser gigante em ser personagem não poderia inspirar-se em outro, senão no sábio que escreveu o personagem que era louco em ser gigante. Meio a lógica da criança que sonha em ser gente grande e que cresce para sonhar em ser criança. Talvez a volta de Outubro tenha me infantilizado. As cores de infância no chão me fizeram desejar, não ser gente grande e caçar moinhos, mas eu brincava de Clarissa Dalloway e ia comprar flores.
...


Laís de Oliveira


Sete mulheres, sete caras, nomes, gostos, vozes, gestos, mas todas Madalenas de um só trilho.



Que esse trem vá longe!




Beijos e boas vindas a nós!

Imagem: A Donzela (A virgem) - Gustav Klimt

O Romântico que há em mim
[Gabi Moreira]

Certa vez meu irmão me disse:

“Você...
é muito romântica”

E então aquela imagem se defez.

Eu costumava ser liberal! Extrovertida!
Nem apaixonada, nem envolvida.

Mas aí
aquela imagem se desfez

E eu percebi porque nada me preenchia
Porque o beijo vazio de nada valia
Porque se não me ligasse
Falta fazia

E então eu vi o quanto estava cética
Que a vida não era tão patética
Que os filmes de amor tinham uma lógica
Que eu precisava era de uma vodka

Pra me esquecer
Pra fazer o dia escurecer
Pro meu irmão não ficar me olhando assim
Pra arrancar o romantismo que há em mim
Colado em mim
Impregnado em mim
Soldado em mim

E então eu soube
Que o vazio me pertence e nem tudo faz sentido



Postado por:: GABI Moreira