A menina olha pela janela embaçada do ônibus, chovia bastante, a estrada estava toda esburacada e tudo que ela queria era chegar em casa. Mas ela sabia que sua casa não era sua casa mais, e também sabia que não faria tanta diferença assim mudar de lugar.
Ela continuava a olhar pela janela... Então vê uma árvore imensa, única em meio de um pasto ainda mais imenso, pensa: “Ela deve ter ficado assim, durante anos...”. Não, não havia muito o que pensar ali. A bateria do mp3 havia acabado, e olhar pela janela era tudo que ela podia fazer.
O ônibus ia devagar, sacudia, pessoas conversando alto, crianças chorando, mas, de repente, aquela vontade tão grande de chegar em casa passou. Chegar pra quê? Ela voltava na tentativa de resolver problemas, e sabia que dificilmente conseguiria. No final das contas, não dependia dela. Sabia também que todos a esperavam, esperavam por ações que ela deveria fazer, mas que não queria. Então, na tentativa de esquecer de tudo, ela fazia desenhos e escrevia nomes no vidro embaçado, “que coisa de criança!”, pensa.
A menina, entretanto, não é mais uma menina.
E depois de dois dias, as malas continuam lá, intocadas.
Por B.G.
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