sexta-feira, 13 de março de 2009

Descora com o sol



Nota-se que uma cidade já se tornou antiga quando há alguma memória distante o suficiente para ser nostálgica. Da primeira vez que se olha para uma esquina qualquer e se lembra dela vista em outras cores, com olhos antigos.
Belo Horizonte começa a me parecer o que deveria, quando me mudei, e eu já começo a rever paisagens não com o orgulho embriagado da mudança e da vivacidade de uma nova fase, mas com a nostalgia e a saudade de quem reconhece, naquela paisagem, um tempo que não volta. Outubro pode voltar, mas aquelas cores de outubro não voltam.
Eu me arrependo por não ter escrito mais e guardado todas as imagens como elas eram, mas sei que a euforia por guardar todo o momento com os olhos e na pele me fez sentir-me avessa ao isolamento triste da escrita. Sinto que Belo Horizonte é minha casa quando eu consigo ter memórias nos seus quarteirões e quando sinto, desde já, a nostalgia de ter de deixá-la – manifesta no desespero por aproveitar cada espaço.
Posso reler meus versos, mas eles nunca terão a força dos que não foram escritos.
No fim, o melhor que faço é acreditar nas palavras que guardam algo do que era e na saudade das esquinas nas suas cores e segredos, quando eu as desconhecia.
Hoje o meu dia as torna corriqueiras e eu as sinto como se fosse ontem.

Laís de Oliveira, 12 de março de 2009 (madrugada)

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