sábado, 29 de dezembro de 2007

Lápis e papel




Escrevo como se precisasse fugir da minha vida em busca de um abrigo ou um amigo. Escrevo como se tivesse fome e meus dedos bicassem as teclas para encontrar um pão, um sonho... uma certeza. Não leio o que escrevo. Tenho medo de ver a minha fome, e conhecer o texto que uso como pretexto para esconder o meu medo de viver. Tenho medo e desejo de escrever... e de morrer. Escrevo para acabar com esta falta que, sei, jamais será preenchida. Está escondida, atrás deste texto que eu escrevo sem ver.




Texto da Ana, seu blog é esse: http://monocromacialirica.blogspot.com/ (Afinal, como o texto não é meu, sempre bom colocar a referência neeeeam)


E não é apenas porque eu não tive tempo pra escrever, mas porque acho esse texto fantástico.



=D





quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

um soneto

Soneto XXI

Criou o homem, Deus, de brincadeira
E fê-lo belo, a si refletido
Deu-lhe ilusão e folhas de videira
À imperfeição tornou-o divertido

E tão bem pôs-lhe enganos na algibeira
Que humano, mais que havia de ter sido,
Tornou-se o homem e à mesma maneira,
Mais que entende Deus, triste e sofrido.

À frente o criador entre seus jogos
Sem perceber a cria, esta sem vê-lo,
Aquele a rir em seus secretos planos.

O homem sempre à busca d’um tal logos,
E ri-se Deus, que não sabe os apelos
Daquele que em vida é humano.

2005

Laís de Oliveira

sábado, 22 de dezembro de 2007

Diário de ninguém

A menina olha pela janela embaçada do ônibus, chovia bastante, a estrada estava toda esburacada e tudo que ela queria era chegar em casa. Mas ela sabia que sua casa não era sua casa mais, e também sabia que não faria tanta diferença assim mudar de lugar.
Ela continuava a olhar pela janela... Então vê uma árvore imensa, única em meio de um pasto ainda mais imenso, pensa: “Ela deve ter ficado assim, durante anos...”. Não, não havia muito o que pensar ali. A bateria do mp3 havia acabado, e olhar pela janela era tudo que ela podia fazer.
O ônibus ia devagar, sacudia, pessoas conversando alto, crianças chorando, mas, de repente, aquela vontade tão grande de chegar em casa passou. Chegar pra quê? Ela voltava na tentativa de resolver problemas, e sabia que dificilmente conseguiria. No final das contas, não dependia dela. Sabia também que todos a esperavam, esperavam por ações que ela deveria fazer, mas que não queria. Então, na tentativa de esquecer de tudo, ela fazia desenhos e escrevia nomes no vidro embaçado, “que coisa de criança!”, pensa.

A menina, entretanto, não é mais uma menina.
E depois de dois dias, as malas continuam lá, intocadas.








Por B.G.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Laís de Oliveira - Nós



E então, nós.
Que fim que leva
a imprudência dessas mãos?
Nesse entrelaço de dedos,
embaraço, aperto, medos
nós atados num exato
apito de trem
advento de desato
enfim, sós.
trilho, estação.

Laís de Oliveira















Imagem: Urban Romance, Mattew Alan

Cíntia Melo - Dos 19 anos

Sao tantas, em tao poucos anos, as velas que ja soprei, que as vezes e quase como se a gente se esquecesse de nos mesmos. Em cada ano eu me desfaço e me refaço, deixando pedaços de mim pelos cantos, com os amigos, que vieram e que virao. Nesses 19 anos ja fui tanta gente que ja nao sei mais, sem nunca deixar de ser quem eu sou. Em tao pouco tempo os anos foram se passando por mim, sem que eu me desse conta. Nao que sejam muitos, 19 anos a vida nem começou. Mas foi ao apagar as velinhas hoje que eu senti tantos momentos intensos ja vividos.


Ressaca, texto ruim, so pra postar, foi mal a ausencia! =/

sábado, 15 de dezembro de 2007

Coisa de buteco

Não, não quero abandonar isso aqui.
É uma saída boa, útil, mas não fácil.
Não ando com vontade de escrever... Queria postar algum texto de alguém, entretanto, nem mesmo isso me veio à cabeça.
Talvez seja porque meus sentimentos são sempre os mesmos, assim como minhas idéias, e,por mais que continuem aqui, tentando gritar, dia pós dia, continuarão silenciados. Escrever reprime o grito, não o silêncio.

Pouco tempo atrás, saindo de um bar perto da minha casa, uma amiga me perguntou se eu preferia uma alegria falsa ou uma tristeza verdadeira. Alegria falsa, disse. Ela me olhou chocada. Perguntou aos outros, e todos responderam que preferiam uma tristeza verdadeira. Então, ela olhou pra mim, arqueou as sobrancelhas, e me disse vários argumentos, bons, admito, para me convencer do contrário. Olhei calmamente e disse: ainda sim, prefiro uma alegria falsa. Conhecendo-a como conheço, ela brigaria por sua opinião durante horas a fio, se houvesse alguma chance de convencer-me, mas viu que não era o caso.

O fato é que a pergunta foi o que eu preferia, um ou outro, e tristezas verdadeiras não me interessam. O quanto mais longe eu puder passar dela, lhes digo, passarei. Covardia? Sim, porque não.
Creio que esteja aí o problema. Escrever coloca o meu pé na realidade, em minhas tristezas verdadeiras, em minhas alegrias falsas. Escrever me mostra o conflito entre o silêncio que eu forço e o grito que insiste sair.

De qualquer forma, louco mesmo é quem só quer viver de realidade.
O que não significa que eu não seja louca, claro.





"Suddenly I see
Why the hell it means so much to me?"

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Marinha


"Oh Madalena, o meu peito percebeu
que o mar é uma gota
comparado ao pranto meu"
Ivan Lins
Imagem: Marinha, Portinari
"...
Nessa calma de água
esse ar de alma
..."
trecho de Porto, Laís de Oliveira

sábado, 1 de dezembro de 2007

Mas se tu me cativas...

Hoje o dia acordou com cara de domingo. Não sei explicar... Talvez seja a monotonia, o céu nublado, a vontade de dormir o dia todo e não ver ninguém.
O fato é que meu desespero para que o tempo passe, para que as coisas aconteçam, têm me impedido de viver o presente, têm me feito uma pessoa ansiosa, mais impaciente do que eu usualmente sou, e, acredite, o normal já é exagero. O agora não me contenta, e eu não sei o que fazer quanto a isso. Quem sabe?
É a minha paz que eu procuro. Talvez ela esteja simplesmente em uma boa noite de sono, ou em uma longa caminhada na praia...
Enfim...
O ser humano é uma criatura deveras engraçada.






“- Os homens, disse o principezinho, se enfurnam nos rápidos, mas não sabem o que procuram. Então eles se agitam, ficam rodando à toa...”

“- Onde estão os homens? repetiu enfim o principezinho. A gente está um pouco só no deserto.
- Entre os homens também, disse a serpente.”