Vinho para escrever, queijo para engordar... A noite se parece com alguma em que eu acabava de chegar aqui. As luzes me parecem novas, o cenário é quase inédito. Escrevendo, eu me lembro dos textos que perdi, do que ficou por ser dito. Eu deveria sair, esta noite, recuperar nas ruas a escrita que um dia o asfalto me inspirou e as luzes amareladas ditaram, para que eu recuperasse também o amor passado e a nostalgia de outros tempos. Mas estes já se foram, e, mais do que meu hard disk, estas memórias são irrecuperáveis.
No entanto, a sensação de tudo novo em dá uma impressão de nova chance, como se agora me fosse dado voltar e recuperar antigos feitos, e refazê-los, aprimorá-los, olhar mais vezes. Da janela, talvez as lâmpadas de rua são as mesmas. Talvez à distância elas parecessem trocar de lugar. As luzes acesas, enquadradas nas janelas dos prédios, de repente me lembraram de você, que eu sei que é amarelo, relembro segurando o riso, por saudade, ou zombaria por mim mesma. Eu sei que quis te escrever antes que o conhecesse, e agora seu texto perdido e esta noite nova me confundem... Já o conheci?
O efeito do vinho passa, eu devo sair.
Eu deveria te encontrar sobre a cidade, sem que o esperasse. Você não me veria e, futuramente, nenhum de nós ia lembrar como nós nos conhecemos, como se nós de muito já nos conhecêssemos... Talvez houvesse álcool e um amigo em comum, ou ninguém em comum, ou ninguém. Deveriam só haver as luzes amarelas e nós... O sabor rescendente do vinho e a saliva pesada de queijo, para que o fermentado da cerveja acentuasse a sensação de preenchimento. Mas agora me lembro, quase sóbria, que quase já não acredito em você.
Você é um texto a ser escrito, aquele que vai me acompanhar por estas noites para que eu não tenha outra ocupação, senão dizê-lo. Senão fazê-lo rima. Poesia, texto: registros do que nunca foi, o fundamento da escrita de um poeta, a musa inacabada. Vinho para escrever. Queijo para engordar. Eu sei que você não existe? Eu acredito? Eu somente te escrevo como um agrado para os meus dedos? Você é rima e não poderia ser mais que isso, outra coisa.
No fundo espero, ou eu sei que hei de encontrar-te nos teclados, nestas noites, até que as teclas se desgastem e eu as adivinhe para contá-lo. Até que eu me desgaste e seja sua, até a 38º edição, ou até a publicação na banca mais próxima.
Até que eu finalize um livro num final amargo e inacabado, daquele que só eu conheça, para satisfazer-me de manter algo seu em mim. Para que eu te leve comigo.
Laís de Oliveira
No entanto, a sensação de tudo novo em dá uma impressão de nova chance, como se agora me fosse dado voltar e recuperar antigos feitos, e refazê-los, aprimorá-los, olhar mais vezes. Da janela, talvez as lâmpadas de rua são as mesmas. Talvez à distância elas parecessem trocar de lugar. As luzes acesas, enquadradas nas janelas dos prédios, de repente me lembraram de você, que eu sei que é amarelo, relembro segurando o riso, por saudade, ou zombaria por mim mesma. Eu sei que quis te escrever antes que o conhecesse, e agora seu texto perdido e esta noite nova me confundem... Já o conheci?
O efeito do vinho passa, eu devo sair.
Eu deveria te encontrar sobre a cidade, sem que o esperasse. Você não me veria e, futuramente, nenhum de nós ia lembrar como nós nos conhecemos, como se nós de muito já nos conhecêssemos... Talvez houvesse álcool e um amigo em comum, ou ninguém em comum, ou ninguém. Deveriam só haver as luzes amarelas e nós... O sabor rescendente do vinho e a saliva pesada de queijo, para que o fermentado da cerveja acentuasse a sensação de preenchimento. Mas agora me lembro, quase sóbria, que quase já não acredito em você.
Você é um texto a ser escrito, aquele que vai me acompanhar por estas noites para que eu não tenha outra ocupação, senão dizê-lo. Senão fazê-lo rima. Poesia, texto: registros do que nunca foi, o fundamento da escrita de um poeta, a musa inacabada. Vinho para escrever. Queijo para engordar. Eu sei que você não existe? Eu acredito? Eu somente te escrevo como um agrado para os meus dedos? Você é rima e não poderia ser mais que isso, outra coisa.
No fundo espero, ou eu sei que hei de encontrar-te nos teclados, nestas noites, até que as teclas se desgastem e eu as adivinhe para contá-lo. Até que eu me desgaste e seja sua, até a 38º edição, ou até a publicação na banca mais próxima.
Até que eu finalize um livro num final amargo e inacabado, daquele que só eu conheça, para satisfazer-me de manter algo seu em mim. Para que eu te leve comigo.
Laís de Oliveira
"Era hora de acordar
Tinha um mundo pra aprender
Tem às vezes que brigar
Pra tristeza não vencer
A vontade de dançar
E a criança pra nascer
Mala grande pra arrumar
Vinho branco pra esquecer"
Sinhazinha (Despedida), Chico Buarque
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