O ser humano tem uma capacidade engraçada de fingir que está bem, sempre feliz, saltitante, comunicativo. Parece que a tristeza, a infelicidade, o tédio são sentimentos fracos, indemonstráveis. Eu perdi essa parte da evolução.
Posso mentir pra mim mesma e me enganar de forma primorosa. Sou capaz de criar ilusões que, de tão distorcidas, me parecem reais, e viver assim em um mundo imaginário onde não necessariamente sou mais feliz. Mas não se engane... Este meu mundo é pessimista em relação a tudo (minto, exceto uma coisa, que eu jamais poderia dizer aqui), e nele eu continuo sendo uma pessoa dotada de impedimentos que, na maioria das vezes, não existem, e alguém que possui um conformismo em relação às coisas difíceis da vida que simplesmente não deveria existir. Meu mundo é ilusório porque eu distorço a realidade, mas isso não significa que eu tenha nele uma visão distorcida de mim mesma.
Em compensação, para os outros eu não consigo fingir nem uma dor de cabeça, quanto mais felicidade. Não estou tratando essa minha capacidade de fingir mal e mentir pior ainda como uma qualidade ou um defeito. Claro que sinceridade é um valor indispensável, mas seria hipocrisia dizer que a verdade deve sempre ser dita, não importa a ocasião. Mas, para mim, pouco interessa. Quem realmente me conhece decifra-me em poucos segundos, seja pelo olhar perdido, pelo sorriso frouxo ou pelas mãos inquietas.
Mas não é por não conseguir fazer o mesmo e nem por achar uma falsidade desnecessária que pessoas que fazem questão de se mostrar sempre felizes me irritam. É uma perda de tempo se esforçar tanto pra passar uma imagem tão irreal e desgastada. O ser humano é por si só fraco e suscetível a mudanças e incertezas e não admitir isso sim é uma fraqueza imensurável. A frustração é um componente constante em nossas vidas, mesmo porque, se não fosse, não viveríamos nessa busca incessante por algo que nos complete. O que existe são pedacinhos de felicidade, que encontramos dia pós dia, porque o homem é insaciável, passa toda uma vida procurando por algo que, de fato, nunca encontrará por inteiro.
E perceber isso não faz ninguém passar toda uma vida sorrindo.
P s : é, acordei me sentindo oca hoje.
Por B.G.!