terça-feira, 25 de março de 2008

No café das tulipas amarelas


"Senti um abraço forte, já não era medo

Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim!"


É verão no Brasil, mas hoje fazia frio. Não frio, frio, mas um frio que me lembrou aquele comecinho de setembro. E meu cérebro se confundiu. Eu me perdi de vez nos devaneios tolos que me afligiram a alma nestes últimos seis conturbados meses. Muita dor proscratinada, esperança maldita apunhalando meu peito. Foi por isso que quando eu o vi eu senti uma vontade estranha de correr e dar um abraço caloroso, encostar minha bochecha na bochecha dele e abrir um sorriso solar. Eu queria brincar com a ponta do nariz dele, que eu sabia secretamente que era torta, afinal aprendemos pelo menos isso naquelas palestras, mas esse é um segredo nosso. Por algum motivo estranho, hoje ainda fazia parte daqueles dois meses maravilhosos de quando eu o conheci, e eu quase acreditei que logo a gente se sentaria no café das tulipas amarelas e ia rir um do outro. Hoje eu ainda não tinha enfiado os pés pelas mãos e podia então fazer planos de passar o domingo no parque, que a gente combinou de ir desde que nos conhecemos e nunca fomos (acho que a gente não foi por causa dos quatis). E ele foi passando do outro lado da rua, a mesma rua do café das tulipas amarelas, onde a gente quase deu o primeiro beijo; mas hoje, seis meses depois, ele passou apressado, sem nem me notar. E meu coração sofrendo com tanta paixão anacrônica. Talvez nem fosse o mesmo ele mais, seis meses mudam muito as pessoas, como mudam. Só quem não mudou fui eu. Ou mudei. Meu coração continua preso no passado, meu corpo envelheceu seis meses, mas meu coração ainda espera a continuação daquela noite sem fim.